- julho 11, 2017
- Posted by: Rafael Kosoniscs
- Category: Blog
Quando falamos de inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho se faz necessário entender que a cultura social marcada pelo assistencialismo, a caridade e a falta de informação pautaram nossa relação com o tema e ainda há muito que superar para desconstruir o ciclo de invisibilidade social ao qual estão submetidas. Segundo o ciclo da invisibilidade as pessoas com deficiência são escondidas dos demais tornando-se invisíveis a seus olhos, não se constituindo, portanto, em um problema na comunidade em que vivem; se não são problema social, e sim familiar, não há preocupação em oferecer a eles os mesmos serviços oferecidos aos demais cidadãos; se não são considerados cidadãos com direitos a serviços sociais, eles são discriminados e por serem discriminados, são afastados pela família dos demais cidadãos e o ciclo não se interrompe.
Quando nos deparamos com essas pessoas a nossa atitude revela não somente nossas crenças e valores individuais como também o contexto social em que vivemos. Através de um condicionamento cultural aprendemos os preconceitos e reproduzimos estigmas de acordo com cada momento histórico. Dessa forma, a trajetória histórico/cultural das pessoas com deficiência reflete como se desenvolveram os valores da humanidade e nos ajudam a entender os motivos por que um dia condenamos ao extermínio membros imperfeitos e hoje estamos aprendendo a conviver com a diversidade humana.
Avaliando os resultados dos últimos 14 anos, contados a partir da atuação da fiscalização junto às empresas que devem cumprir a Lei de Cotas, devemos reconhecer que passos importantes foram dados e algumas conquistas alcançadas. Hoje pessoas com deficiência participam de processos de seleção com mais segurança, conhecem seus direitos, buscam melhoria profissional, contribuem com a renda familiar e, em muitos casos são arrimo de família. Profissionais de RH aprofundaram seus conhecimentos, aprenderam novas formas de se comunicar com as pessoas com deficiência em busca de trabalho, trocaram informações entre si, desenvolveram programas, venceram desafios…
Essas mudanças trouxeram aos profissionais de RH a tarefa de rever seus conceitos e aprender sobre as formas de lidar com a diversidade humana. Hoje podemos conversar sobre experiências positivas da inclusão e como elas são úteis para a melhoria da qualidade das relações nas empresas. Relatos sobre superação, solidariedade e comprometimento são comuns quando se fala dos programas desenvolvidos. Entendemos que o processo de inclusão exige envolvimento, informação, vontade para promover a mudança cultural. Pessoas com deficiência devem ser contratadas por sua capacidade profissional e, caso for necessária alguma modificação/adequação (compra de equipamentos, modificações arquitetônicas, etc.) para o desempenho de sua função, esta deve ser encarada como um dos investimentos que as empresas devam promover para a melhoria dos seus processos.
Por outro lado os desafios ainda são muitos pois, o cumprimento da legislação pede um trabalho contínuo tanto na busca quanto na retenção dos profissionais e, dependendo do segmento essas tarefas nem sempre são fáceis. Esses são desafios bem conhecidos pelos profissionais de Rh que atuam no segmento do comércio varejista alimentício que, tem na manutenção da cota para cumprimento da legislação uma meta constante.
A compreensão das dificuldades possibilitou o diálogo entre os parceiros e avanços na busca de formas de superar os desafios e garantir a qualidade nas ações de inclusão. Um exemplo está contido nas orientações da Instrução Normativa 98 que estabelece na seção IV, artigo 17 a possibilidade de lavratura de Termo de Compromisso para que as empresas ou segmentos que tenham dificuldades em cumprir suas cotas possam, dentro de um prazo acordado, desenvolver ações com objetivo de minimizá-las, garantindo assim o efetivo cumprimento da legislação sem prejuízo a qualidade da inclusão.
No caso do segmento uma das grandes possibilidades é a capacidade de promover a transformação cultural através da relação com os trabalhadores e clientes. O comportamento das empresas e suas relações com seus públicos podem influenciar uma postura mais reflexiva com relação ao respeito a diversidade e aos direitos das pessoas com deficiência. Informar os clientes sobre a postura inclusiva, divulgar as ações, desenvolver materiais informativos sobre o tema contribuem para que mais e mais pessoas compreendam e valorizem o tema.