- outubro 17, 2017
- Postado por: Rafael Kosoniscs
- Category: Esporte
O esporte é uma alternativa para os deficientes que buscam superar suas limitações físicas e se tornarem atletas de alta performance
Por: Julia Pinto e Rafael Kosoniscs
O início dos esportes adaptados para os deficientes surgiu no século XX com modalidades voltadas para os deficientes auditivos. A partir do ano de 1920, passaram a incluir outros tipos de deficiências e, com isso, as modalidades esportivas começaram a ser adaptadas. Desde então, esses esportes começaram a ganhar espaço no cenário esportivo. Mesmo ganhando dimensão, pouco se sabe como as pessoas especiais ingressam no esporte e qual a estrutura que eles encontram para praticarem atividade física.
Com o surgimento dos Jogos Paralímpicos, em 1960, diversos clubes brasileiros e associações começaram a investir e a desenvolver os esportes adaptados. Hoje, o Brasil é referência em estrutura para essas modalidades. “Atualmente, o principal espaço do país para a prática de esporte adaptado é o Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro, em São Paulo. Há também uma série de associações e clubes espalhados pelo país que possibilitam a prática do esporte para a pessoa com deficiência.” diz Ivo Felipo do Comitê Paralímpico Brasileiro.
Na opinião da Diretora da Associação Desportiva para Deficientes, Eliane Miada, essa nova estrutura inaugurada ano passado como parte da Rio 2016, diz que não é algo recente no cenário do esporte brasileiro. “Antes existia locais, como SESC, e o Centro Olímpico. Mas o Sesc ele é totalmente adaptado, permitindo toda uma mobilização das pessoas com deficiência, já o Centro Olímpico, como é antigo, ele tinha algumas defasagens em termos de infraestrutura e de acessibilidade, além das escolas estaduais, onde se também pratica atividades físicas. Na verdade sempre se deu um jeito para que essas pessoas praticassem esportes, podemos dizer que depois das Paralimpíadas hoje temos uma das melhores estruturas.”
No campo dos esportes para deficientes, centros de formação de atletas buscam várias iniciativas para o fortalecimento das modalidades e na formação de atletas capacitados, assim esses clubes visam promover o bem estar dessas pessoas. Para Felipo, o principal convívio com os esportes adaptados é por meio das associações e clubes que oferecem esses desportos. “O primeiro contato com o esporte é feito nestas organizações, muitas vezes visando à reabilitação. As próprias associações dão a opção ao deficiente de seguir a carreira e tentar o caminho no alto rendimento ou a seguir a prática de modo amador que ajude em sua qualidade de vida. Mas quando se trata do alto rendimento, existe uma série de programas desenvolvidos pelo Comitê Paralímpico Brasileiro para detecção de talentos e desenvolvimento das modalidades.” ressalta.
Leis de inclusão
Ainda que muitos deficientes pratiquem atividades físicas no Brasil, não há uma lei efetiva que garanta a inclusão deles no esporte, é o que explica o Comitê Paralímpico Brasileiro. “Não há uma lei que garanta especificamente a inclusão das pessoas com deficiência no esporte. O que existe e beneficia o esporte paralímpico é a Lei Brasileira da Inclusão da Pessoa com Deficiência (13.146/2015).” diz Nadia Xavier, também representante do CPB para relatar que, de fato, o que existe é um incentivo destinado a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania.
Embora exista essa Lei Brasileira da Inclusão da Pessoa com Deficiência, o que garante a sobrevivência do esporte são os apoios não governamentais e instituições sem fins lucrativos, que se tornam na maioria das vezes as únicas fontes de captar recursos. “A única coisa que entendo que seria mais próximo de recurso público é a via lei do incentivo ao esporte, onde também as empresas abrem mão do imposto de renda para uma parte dele aplicar em projetos sociais.” explica Eliane Miada, informando que instituições como a ADD não utilizam recursos públicos, somente incentivos da iniciativa privada.
A ideia de que todos os estados brasileiros tenham condições de ajudar na disseminação do esporte de pessoas com deficiência é equivocado. São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, são os mais privilegiados em questão de infraestrutura, é o que garante Sileno Santos, Coordenador de Esportes da ADD: “No geral, o Brasil é razoável, boa em São Paulo, mas precária no nordeste e quase inexistente no norte.” A diferença se trata também devido ao conceito Paraolímpico estar presentes nestes estados de maior economia, onde possuem mais visibilidade e apoio. De uma maneira mais ampla, pode-se dizer que o Brasil ainda carece de adaptação e incentivo.
Qualificação profissional
Na perspectiva de encontrar profissional qualificado para trabalhar em meio aos atletas amadores e profissionais não é simples, principalmente pelo fato das universidades não se aprofundarem no assunto e darem pouca ênfase em esportes para pessoas com deficiência
A prova disso é que, desde 2010, o próprio Comitê Paralímpico Brasileiro oferece gratuitamente cursos de formação, capacitação e atualização de profissionais para atuar nas diversas áreas do esporte adaptado, além de promover congressos e workshops para disseminar o conhecimento nesta área. “A maioria dos profissionais que sai da universidade não têm um contato muito forte com esportes de pessoas com deficiência. Então, esses profissionais dependem de uma capacitação em outras instituições, porque a carga horária que eles possuem na faculdade é muito pequena em relação a que eles realmente precisam para trabalhar com pessoas com deficiência.”, enfatiza a Diretora da Associação Desportiva para Deficientes.
Programas e benefícios
A ampla disseminação da prática esportiva pelas pessoas com deficiência, mostrado que nas últimas Paralimpíadas, a delegação brasileira não apenas marcou presença no Top 10 como deixou países como a Alemanha para trás, essa conquista se dá por decorrência dos trabalhos que são desenvolvidos. “Acreditamos que esse sucesso decorre do trabalho que tem sido feito desde o princípio, quando da fundação do Comitê Paralímpico Brasileiro, em 1995. Desde então, houve uma profissionalização gradual da estrutura do esporte adaptado no Brasil, que a longo prazo gerou frutos em grandes competições internacionais. Hoje, é possível afirmar que o Brasil é uma das maiores potências do esporte paralímpico mundial.” comenta Nadia Xavier.
Todo esse sucesso é consequência dos trabalhos que são oferecidos por clubes e instituições que valorizam a vida dos atletas, como é o caso da ADD que tem como objetivo promover o desenvolvimento das pessoas por meio do esporte, assim eles desenvolvem programas como o de Alto Rendimento Esportivo, voltado para a formação de atletas paralímpicos de ponta, além do Escola de Esporte Adaptado, focado em crianças e jovens com deficiência e Programas de Ensino, Pesquisa e Treinamento, que procuram construir e disseminar o conhecimento prático e teórico acerca das práticas desportivas de pessoas com deficiência.
Segundo a diretora da Associação Desportiva para Deficientes, hoje o programa de Alto Rendimento conta com três modalidades que são promovidas pela ADD, mas o principal esporte praticado é o basquete de cadeira de rodas. “Não existe uma estatística oficial, mas o basquete sobre cadeira de rodas é primeiras modalidades que foi adaptado e o esporte mais praticado.” constata Eliane.
Para Sileno Santos, além dos programas oferecidos, a prática do esporte tem papel fundamental no processo de inclusão. “Acreditamos no potencial do esporte para contribuir com o desenvolvimento e o processo de inclusão de crianças, jovens e adultos com deficiência.” conta o coordenador. “A importância da prática esportiva na vida de pessoas com deficiência é essencial, além disso, as atividades esportivas ajudam no processo de reabilitação dessas pessoas.” complementa a diretora da instituição.
“Por meio do esporte, o deficiente pode reabilitar-se e, ao longo prazo, seguir a sua carreira de alto rendimento, porque quando se trata do alto rendimento, existe uma série de programas desenvolvidos pelo Comitê Paralímpico Brasileiro para detecção de talentos e desenvolvimento das modalidades.” afirma o CPB.
O amadorismo no esporte está além da inclusão, já que possui a perspectiva de uma longa e vitoriosa jornada. Assim, importância da prática esportiva na vida dessas pessoas é essencial, pois não só ajuda na inclusão, mas na confiança e na autoestima.
“O esporte é um fator fundamental para elas adquirirem sua independência e melhorar o convívio social.” complementa Ivo Felipo do Comitê Paralímpico Brasileiro.
Fotos: shutterstock.com