- janeiro 24, 2020
- Postado por: Rafael Kosoniscs
- Category: Inclusão
Estudo iniciado em 2010 comparou a performance de 109 crianças e adolescentes atendidos pelo Instituto Jô Clemente em escolas comuns e especiais
Por Lucas Borba
O Instituto Jô Clemente, antiga Apae de São Paulo, divulgou os resultados de uma pesquisa iniciada em 2010, que acompanhou o desenvolvimento educacional de 109 estudantes atendidos pelo IJC. Segundo o trabalho realizado pelo Centro de Ensino, Pesquisa e Inovação (CEPI) do IJC, as crianças e adolescentes que frequentaram escolas regulares (salas de aula comuns) apresentaram ganhos em identidade, autonomia, comunicação, linguagem, expressão, relacionamento interpessoal e aprendizagem.
O estudo também analisou o desempenho de estudantes matriculados em “escolas especiais” – por exemplo, exclusivas para crianças e adolescentes surdos, com deficiência visual ou intelectual. Dos 109 participantes da pesquisa, 43 frequentaram escolas regulares e 66, escolas especiais. Em entrevista ao portal Estadão, Roseli Olher, supervisora do Atendimento Educacional Especializado (AEE) do IJC, afirmou que o grupo matriculado no ensino regular demonstrou desejos e maior interesse pelas atividades propostas, com os estudantes mostrando-se questionadores em certos momentos das aulas. ““Em relação à independência, foram capazes de se locomover pelas dependências das escolas, dirigindo-se ao banheiro, bebedouro, refeitório, servindo-se e alimentando-se adequadamente nos horários de recreio. No que diz respeito à comunicação e expressão, a maioria conseguiu transmitir suas ideias e se fazer entender mesmo quando ainda não havia comunicação oral, por meio de gestos ou imagens.”, acrescenta a supervisora.
No caso dos alunos que frequentaram escolas especiais, foram observados poucos avanços quanto à autonomia, aprendizagem e comportamento social. “Os estudantes permaneceram com atitudes infantilizadas, comportamentos inadequados, dificuldades para enfrentar e resolver conflitos, vocabulário restrito e fora de contexto quando solicitados para exporem suas ideias e se fazerem entender perante os colegas e adultos, demonstrando pouco interesse e iniciativa frente às propostas apresentadas. “Em relação à autonomia e independência, ainda necessitavam de um profissional para acompanhá-los pelas dependências da escola.”, relata a especialista.
Em novembro de 2019, ocorreu uma audiência pública no Congresso Nacional referente a uma proposta de alteração da Política Nacional de Educação Especial, que o Governo Federal, por meio do Ministério da Educação (MEC), deve divulgar ainda no começo deste ano. O novo decreto favorece a criação de centros de educação exclusivos para crianças e adolescentes com deficiência. Para Rosali, a nova política equivale a um retrocesso. “A Lei Brasileira de Inclusão garante o acesso de todas as pessoas com deficiência à educação regular comum. Essa alteração pode ampliar a exclusão e a segregação. É importante que crianças e adolescentes com deficiência sejam incluídos na sociedade e tudo começa na infância, na idade escolar. Para quem tem algum atraso no desenvolvimento neuropsicomotor ou uma deficiência intelectual, essa importância é ainda maior, porque sabemos que a socialização é fundamental no desenvolvimento, na aprendizagem e na conquista de autonomia.”, defende a educadora.
Em 2010, o IJC (na época, Apae de São Paulo) fechou a sua escola especial e passou a oferecer Atendimento Educacional Especializado (AEE), com o objetivo de identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras e garantam a plena inclusão do aluno na escola regular. São práticas diferentes das realizadas em uma sala de aula comum, que não devem substituí-las, mas complementá-las no contraturno escolar.
Saiba mais conferindo o site do Instituto Jô Clemente.